Cascata do Escalvadouro (*) (Vila de Rei e Sertã)

A Cascata do Escalvadouro é espetacular especialmente durante o inverno e após intensas precipitações, quando o caudal do curso de água se torna vigoroso. No entanto, no estio, o fluxo reduz significativamente. Este fenómeno evidencia a força contínua dos processos erosivos, permitindo-nos apreciar não apenas a beleza cénica, mas também os mecanismos geológicos em ação.

Localizada na ribeira do Lavadouro – também conhecida como Ribeira das Trutas –, nas proximidades de Vila de Rei, a cascata situa-se na zona da aldeia do Lavadouro. O curso de água provem da quartzítica Serra da Melriça, percorrendo um vale rochoso onde se impõe um contraste marcante entre diferentes litologias. A água, ao longo do seu percurso, corta um arenito silicificado, de origem predominantemente granítica e com significativa componente arcósica. O arenito resistente à erosão, contrasta com o xisto, material mais brando e suscetível ao desgaste.

Esse contraste entre a resistência do arenito e a vulnerabilidade do xisto exemplifica o processo de erosão diferencial. Enquanto o arenito resiste a força da água, o xisto é intensamente erodido, o que resulta na formação de desníveis abruptos e encostas escarpadas logo após cessar a sequência arenítica.

A cascata caracteriza-se por duas quedas consecutivas: a primeira, com aproximadamente 15 metros onde na escarpa na margem esquerda se encontra um antigo moinho de água; a segunda, de cerca de 5 metros, está localizada a jusante. Este conjunto não só ressalta a dinâmica dos processos erosivos como também convida o observador a uma experiência sensorial marcada pelo “rugido” da água, que nos faz abrandar. Tão pequena ribeira, e que tão espetacular efeito faz na cascata, recorda-nos que corta a rocha, não por causa de seu poder, mas por causa de sua persistência sendo um símbolo à persistência.

Importa ainda contextualizar a rocha xistosa, que integra o Complexo Xisto-Grauváquico, uma sequência sedimentar formada principalmente entre cerca de 635 e 541 milhões de anos, tendo se estendido até o Câmbrico médio (aproximadamente 509 a 497 milhões de anos atrás). Tal informação ressalta a longa e complexa história geológica da região, onde os processos de sedimentação e metamorfismo contribuíram para o atual relevo e diversidade litológica.

A Cascata do Escalvadouro é espetacular e merece a sua visita.

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