Igreja matriz de Vila Nova de Foz Côa (**)

Construída no século XVI, a igreja matriz de Vila Nova de Foz Côa e o Pelourinho (*), ambos situados no Largo do Município são monumentos notáveis.  Sabe-se que no século XIII existia uma igreja primitiva dedicada a Santa Maria da Veiga e que pagava dízimo a Sé de Lamego, mas esta igreja é do século XVI, porque tendo o seu belo portal com simbologia Manuelina, mas inseridos num arco de volta perfeita, e a sua estrutura arquitetónica é essencialmente do reinado do Dom João III, com a sua pureza renascentista, A igreja tem influência Castelhana, como se vê no coroamento com três ventanas, para albergar os sinos e na platibanda renascentista. Na parede podem ver-se cinco figuras de gosto renascença, os tondi, em alto-relevo, saindo das molduras.
A idade da construção da igreja deve pertencer ao segundo quartel do século XVI.

Após o sismo de 1755, que encurvou as suas colunas a sul e em 1757 dá-se areedificação e ampliação do templo com colocação da cobertura das naves com respetiva pintura. Chama a atenção o teto de madeira na nave central com pinturas a óleo, bem como na capela-mor coberta por vinte e sete caixotões com episódios da Vida de Cristo e da Virgem.

O notável portal Manuelino da Igreja Matriz de Vila Nova de Foz Côa

Tem forte pendor naturalista, em arco de volta perfeita, já ao Romano, tem a simbologia Manuelina, com cinco arquivoltas decoradas com rosetas, palmetas, vieiras, cordas, flores-de–lis, cogulhos, jarrões, cabeças de anjo, arabescos e medalhões. O arco é encimado por uma imagem da Nossa Senhora da Piedade ou do Pranto, em Pedra de Ançã, ladeado por dois escudos reais e duas esferas armilares.

O interior da Igreja matriz de Vila Nova de Foz Côa 

O interior é característico da arquitetura renascentista pura, com três naves definidas por duas filas de colunas encimadas por arcos plenos. As colunas inclinadas a sul impressionam com a causa a ser associada ao terramoto de 1755, que devido a contiguidade da Falha da Vilariça que por aqui passa.

Também tem pinturas no teto e nos caixotões da capela-mor. Os altares são de talha dourada barroca.
Do imaginário merece referência uma Pietá do século XVII, que se encontra no altar-mor, e uma escultura da Senhora do Rosário do século XVI, colocada no altar lateral do lado da Epístola.

Na pintura realça-se um tríptico de pintura quinhentista. Os quadros fazem parte do antigo políptico maneirista de 1575 pintado por António Leitão, bem integrados lateralmente na talha barroca com a evocação da paixão de Cristo: Jesus a caminho do calvário; Jesus na cruz; descida da Cruz, em belos tons violetas

“Quem foi António Leitão?  UM PINTOR VAGAMUNDOS NA RAIA QUINHENTISTA

António Leitão é um enigmático artista aventureiro do século XVI, moço fidalgo e cavaleiro da casa da Infanta D. Maria, seu espião, militar e pintor. Foi homem vagamundos, com vida espartilhada entre terras de Castela, Flandres e Itália, de Roma a Antuérpia, de Lisboa a Lamego, Pinhel, Miranda e Bragança. Mostrava pergaminhos de classe e reivindicava estatuto social como artista: gostava de música, vestia bem, com chapéu de plumas, ostentava o anel de ouro com as armas da Infanta sua protetora, tinha criados, estimava a caça… Leitão nasceu em Castelo Bom, cerca de 1530. Era sobrinho do embaixador Domingos Leitão, foi criado da Infanta D. Maria, que o mandou a Roma aperfeiçoar a arte da Pintura, esteve nas guerras da Flandres, casando em Antuérpia com a bela Luzia dos Reis, também pintora, viveram da sua arte na raia beirã e transmontana, apoiou em 1580 o partido do Prior do Crato, e morou no fim da vida em Bragança, onde morre por volta de 1595, com fama local de «pintor insigne». O seu estilo distingue-se bem, é pessoalíssimo: com vários quadros em (Cepões, Vila Nova de Foz Côa, Melo, Escarigo, Figueiró da Serra, Freixo de Espada à Cinta, Torre de Moncorvo, Miranda do Douro).” 1

Das obras após o sismo de 1755 destacam-se as pinturas no teto e nos caixotões da capela-mor e com pinturas a óleo coberta por vinte e sete caixotões com episódios da Vida de Cristo e da Virgem.

Os altares são de talha dourada barroca da mesma época.

O rico espólio da igreja foi saqueado durante as invasões francesas.

Em 1910 a igreja foi classificada como Monumento Nacional.

Se visitar o Parque Arqueológico do Vale do Côa (*****), Património da Humanidade, dispense algum tempo para visitar este belo conjunto (fachada da igreja e pelourinho) e pense como foi possível, este estilo inventado por nós e promovido pelo D. Manuel, ter em tão pouco tempo (entre 1495-1521), marcado para sempre, com beleza, naturalismo e forte simbologia, o nosso território.

Cronologia da Igreja Matriz de Vila Nova de Foz Côa

-Século XIII: Existência de uma igreja primitiva dedicada a Santa Maria da Veiga, pagando dízimo à Sé de Lamego.

-Século XVI (Início): Construção da igreja matriz atual, no estilo Renascentista com influências Castelhanas e elementos Manuelinos. Data-se a construção no segundo quartel do século XVI.

-1575: António Leitão pinta um políptico maneirista para a igreja.

-1755: O terramoto de Lisboa causa danos à igreja, encurvando as colunas a sul.

-1757: Reedificação e ampliação do templo, incluindo a colocação e pintura da cobertura das naves e da capela-mor com 27 caixotões com episódios da Vida de Cristo e da Virgem.

-Invasões Francesas (Início do Século XIX): Saque do espólio da igreja.

-1910: Classificação da igreja como Monumento Nacional.


Referências adicionais:

-Retirado do texto de Vitor Serrão da sua página do Facebook (1)

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