Não é por acaso que este promontório, se tornou o sítio de eleição e o lugar de culto e descanso do saudoso escritor João de Araújo Correia. Neste espaço de serena melancolia, a paisagem, com o seu vinhedo, longe de ser um mero cenário, é aqui uma entidade viva, uma síntese do trabalho secular e da memória.
Olhemos para a direita, e aí, no rio Corgo esgueira-se num murmúrio antigo, um afluente humilde que transporta a alma das terras altas para o grande pai, o Douro. O rio que escava o xisto, o Corgo desce, serpenteando por entre uma paisagem que está classificada pela Unesco
E por falar em resistência, vejam-se estas encostas. Não são terras de solo rico. A pobreza dos solos formados nesta rocha de xisto, dissecada em vales profundos, é de uma “dimensão esquelética”. A ocupação agrária é uma luta constante, descontínua e insular, uma batalha diária por cada metro de terreno. Foi neste substrato, neste osso da terra Câmbrica, que a tenacidade do homem duriense edificou um milagre, moldando a paisagem com engenho e suor. Cada socalco é um testemunho da laboriosidade do povo, uma obra de arte forjada na pedra. Foi aqui que Portugal criou uma obra extraordinária, o Alto Douro Vinhateiro classificado Património Mundial da Humanidade em 2001
Este miradouro encontra-se na Estrada Nacional número dois, uma espinha dorsal que liga o Norte ao Sul, surge por entre estas dobras, um sinal da modernidade que abriu caminho por estas terras de labor e isolamento. É um traço fino, quase impercetível na imensidão das encostas vinhateiras da freguesia de São João de Lobrigos, que se prolongam até ao vizinho concelho da Régua.
Do Fial, o olhar alcança o cimo da Serra, onde o perfil altivo da Ermida na Serra do Marão Esta serra, que faz parte das Montanhas Ocidentais que aqui com a sua geologia quartzítica e os seus processos de relevo, é uma guardiã silenciosa de um passado de luta, um ponto de referência para a humanidade que habita o vale porque atrás do Marão “Mandam os que lá estão”.
Neste Miradouro do Fial, compreendemos que a paisagem e o povo são indissociáveis. A terra de xisto, aparentemente estéril, não nos nega os seus frutos, aqui a uva e o vinho. Quem trabalha pode conseguir fazer obras extraordinárias.