Castelo de Bragança (**)
Castelo de Bragança (**)
Em Trás-os-Montes, no extremo nordeste do país, na margem do rio Fervença, está um dos mais importantes castelos portugueses.
Da sua torre de menagem o seu panorama é magnífico. Do alto de seus muros avistam-se as serras de Montesinho e de Sanábria (a norte), a de Rebordões (a nordeste) e a de Nogueira (a oeste).
O castelo foi classificado como Monumento Nacional em1910.
História-Antecedentes
Aqui existiu um castro Vetão na Idade de Ferro, como se prova a existência do Verraco que forma o notável pelourinho.
No tempo dos visigodos foi denominada como Brigância. Pertenceu ao reinado de Leão.
O castelo medieval
Em meados do século X, à época do repovoamento da região de Guimarães pelo conde Hermenegildo Gonçalves e sua esposa Mumadona Dias, os domínios de Bragança tinham como senhor um irmão de Ermenegildo, o conde Paio Gonçalves.
Posteriormente o senhorio encontra- se mencionado em documento Julho de 1128, no domínio de Fernão Mendes de Bragança II, cunhado de D. Afonso Henriques (1112-1185). Aqui se implantou o bravo no outeiro da Benquerença.
A Crueldade de Fernão Mendes II de Bragança, O Bravo
Fernão Mendes II de Bragança, O Bravo (1095 – 1160) foi um fidalgo medieval do Reino de Portugal tendo sido tenente das terras de Chaves e a partir de 1128 até 1145 e governador das terras de Bragança. Ficando conhecido sobretudo pelos seus atos violentos, bastante ressaltados no Livro de Linhagens do Deão. É também a ele que Portugal deve a posse da maior parte da região de Trás-os-Montes caso contrário poderia pertencer ao reino de Leão
Nascido por volta de 1095, Fernão Mendes II surge pela primeira vez na documentação em 1124, num documento de 25 de julho, no qual testemunha uma doação da rainha Teresa de Portugal à Sé de Braga. Fernão era filho de Mem Fernandes de Bragança, e Sancha Viegas de Baião, pertencendo desta forma a uma das notáveis linhagens do Reino de Portugal, a Casa de Bragança. Esta família reveste-se de especial importância, pois, e a acreditar nos Livros de Linhagens, o avô homónimo de Fernão teria casado com uma infanta filha de Afonso VI de Leão, dando-lhe desta forma um poder equiparável ao do seu suposto cunhado Henrique de Borgonha.
Terá casado cedo (uma vez que já se encontra viúvo em 1130) com a sua primeira esposa, Teresa Soares da Maia, filha do também influente Soeiro Mendes da Maia, talvez o mais poderoso senhor do seu tempo, chefe da linhagem da Maia e grande apoiante do conde D. Henrique e da Rainha Dona Teresa. Fernão teve de Teresa toda a sua descendência.
O governo da terra de Bragança
Desde 1128 que governou as terras de Bragança, que acumulou com as tenências régias de Chaves e Montenegro até 1148. Fernão e os seus antepassados senhoreavam as margens do rio Douro, numa área que abrangia as atuais localidades de Vila Nova de Foz Côa e Figueira de Castelo Rodrigo. Este poder é confirmado pela sua aparente autonomização no governo das suas terras, dando foral (direito que em Portugal se reservava na sua maioria ao rei), a 25 de junho de 1130, e já viúvo, a Numão, acompanhado pelos filhos. Denota-se neste foral uma postura ainda vacilante entre os partidos português e leonês, uma vez que neste foral Fernão faz referência a Afonso VII de Leão junto a Afonso Henriques.
Fernão vai mais longe quando, em 1147, autoriza o rei a doar à Sé de Braga um casal coutado em Chaves. Volta a dar consentimento ao rei (que desta vez o explicita claramente) a dar carta de foral a Freixo de Espada à Cinta, a 1 de janeiro de 1155 ou 1157. O próprio rei reconhecia desta forma o poder do seu cunhado nesta região.
Fernão também contribuiu para o povoamento das suas terras, como o demonstram as Inquirições de 1258, que o assinalam como povoador da vila de Santo Estêvão (na zona atual de Torre de Moncorvo). Aquela região ficaria mais tarde bastante associada às Ordens Templária. Aliás, devem-se a Fernão e aos seus descendentes a grande implantação desta instituição na zona, através de várias doações, sendo a vila e igreja de S. Mamede de Mogadouro, e o castelo de Penas Róias (pelo próprio Fernão) apenas um exemplo.
A união da linhagem e da terra de Bragança a Portugal
Foi talvez pouco depois de 1130 que se teria dado o famoso rapto da infanta de Portugal, irmão de dom Afonso Henriques, Sancha, segundo os Livros de Linhagens (embora a veracidade deste ato seja disputada). Seja como for, é certo que Sancha se separa do seu anterior esposo, Sancho Nunes I de Barbosa, para se casar com Fernão Mendes. Afonso Henriques pretenderia desta forma garantir a fidelidade e o apoio de uma linhagem bastante influente e independente num vasto território na fronteira leonesa.
A estratégia matrimonial de Fernão Mendes parecia caminhar no mesmo sentido dos seus antepassados: unir-se cada vez mais a Portugal através de sucessivos casamentos com damas portuguesas. O mesmo para os irmãos de Fernão, que casaram no círculo português aliando-se a linhagens como os Cete-Urrô ou os de Ribadouro. O casamento com Sancha teria sido o culminar de toda a estratégia e o símbolo da integração do território em Portugal. Apesar da importância e dos frutos políticos que deu, não resultou qualquer descendência deste matrimónio.
Morte e posteridade
Fernão Mendes II falece por volta de 1160. A sua esposa ainda lhe sobreviveria alguns anos.
Nos Livros de Linhagens do Deão
O Livro de Linhagens do Deão é o primeiro que lhe faz uma referência mais extensa, reportando vários episódios de violência extrema:
Este dom Fernão Mendes, o Bravo, foi o que meteo sa madre na pele da ussa, e pose-lhe os cães, porque lhe baralhara com a barregãa. E este foi o que cortou o dedo, porque errou o usso, com a az[c]ua. E este foi o que levou por prema d’el rei dom Afonso, o primeiro rei de Portugal, a irmaã que tinha casada com dom Sancho Nunez de Barvosa, e a terra de dom Gonçalo de Sousa, o Boo, porque se rirom del ante el rei, por ũa pouca de nata que lhi caera pela barba, sendo i comendo. E este foi o que exerdou sa madre pela infançãa que assi houve.
Ou seja, reza a lenda que o terrível Fernão perseguiu a própria mãe, colocando-a dentro de uma pele de urso e lançando-lhe os cães, porque ela lhe reprendido porque se tinha envolvido com a sua amante.
Raptou a infanta Sancha, irmã do rei D. Afonso Henriques e então casada com Sancho Nunes de Barbosa, e ainda tomou terras a Gonçalo de Sousa, apenas porque este se tinha rido dele à mesa do rei, quando lhe caiu um pouco de nata da barba.
A acrescentar um episódio com o seu irmão Rui Mendes, com o qual teria feito um pacto de não agressão. O rompimento deste pacto pelo irmão levou a que Fernão simplesmente o matasse.
Esta história é contada porque por aqui se pode compreender a importância dos grandes senhores entre o Minho e o rio Douro para o nascimento de Portugal, mas também se compreende porque razão o rei dom Afonso Henriques se deslocou para Coimbra para se distanciar da influência destes poderosos senhores.
Voltemos então ao Castelo de Bragança
Pela importância da sua posição estratégica sobre a raia com Leão, em 1187 recebeu Carta de Foral de D. Sancho I. Este soberano dotou, à época, a povoação com a primeira cerca amuralhada (1188). Os conflitos entre este soberano e o rei D. Afonso IX de Leão levaram a que esta região fosse invadida pelas forças leonesas (1199) até à reação do soberano português.
Castelo de Bragança, Portugal: pormenor da Torre de Menagem
Sob o reinado de D. Dinis (1279-1325), determinou-se erguer um segundo perímetro amuralhado (1293), o que indica a prosperidade do povoado.
O seu sucessor, D. Afonso IV (1325-1357), ao subir ao trono, confiscou os bens de seu irmão ilegítimo, D. Afonso Sanches, que então residia na vila de Albuquerque. Defendendo os seus interesses, D. Afonso Sanches declarou guerra ao soberano e invadiu Portugal pela fronteira de Bragança, matando gentes, saqueando bens e destruindo propriedades.
Posteriormente, já sob o reinado de D. Fernando (1367-1383), o castelo de Bragança recebeu obras de beneficiação com a reconstrução da cerca defensiva. Nesta fase, em virtude do envolvimento do soberano português na disputa sucessória de Castela, Bragança foi cercada e ocupada pelas tropas castelhanas, retornando à posse portuguesa só depois da assinatura do Tratado de Alcoutim (1371).
Na crise de 1383-1385, aberta pela sucessão deste soberano, a lealdade do alcaide de Bragança, João Afonso Pimentel, oscilou entre Portugal e Castela, porque era cunhado de cunhado da Rainha Dona Leonor Telles (casada com Dom Fernando), portanto tio de Dona Beatriz, pretendente ao trono português, e a “sua lealdade oscilou entre Dona Beatriz e o Mestre de Avis”. Ao inicio partidário da herdeira D. Beatriz e de seu esposo João I de Castela, apenas por diligências do Condestável D. Nuno Álvares Pereira, em 1386, veio a reconhecer a soberania de D. João I (1385-1433).
Quando sua filha Beatriz foi assassinada pelo marido, e Dom João I não
Porém, em 1398, tendo o novo soberano deixado impune o assassino de sua filha D. Brites, o alcaide de Évora, Martim Afonso de Melo (a ironia é que este como castigo viveu até aos 100 anos), como represália retornou ao partido de Castela, para onde emigrou, fazendo-lhe menagem da sua povoação e castelo, que só retornariam à posse portuguesa, agora pelo Tratado de Segóvia (1400). Em 1º de Maio de 1398, Henrique III concedeu-lhe o título de primeiro Conde de Benavente.
Inicio da Casa de Bragança
D. João procedeu-lhe, a partir de 1409, à modernização e reforço das defesas.
O casamento de D. Afonso (1.º Duque de Bragança), filho bastardo de D. João I, com D. Beatriz Pereira de Alvim, filha de D. Nuno Álvares Pereira, inaugurou a Casa de Bragança. Data desse período a construção da imponente torre de menagem, estando as obras concluídas por volta de 1439, no reinado de seu sucessor, D. Duarte (1433-1438). D. Afonso V (1438-1481) elevou a vila de Bragança à condição de cidade (1466).
Sob o reinado de D. Manuel I (1495-1521), a povoação e seu castelo encontram-se figurados por Duarte de Armas (Livro das Fortalezas, c. 1509).
Da crise de sucessão de 1580 aos nossos dias
Durante a crise de sucessão de 1580, Bragança tomou partido por D. António, Prior do Crato.
No século XVII, ao se encerrar o período da Dinastia Filipina, quando da Guerra da Restauração da independência portuguesa, a cerca do antigo castelo perdeu diversas ameias, devido à instalação de peças de artilharia no espaço dos adarves.
Em 1762, as tropas espanholas que invadiram Trás-os-Montes sob o comando do marquês de Sarria, assaltaram os muros do castelo e as casas que então se colavam às muralhas, causando extensos danos. Foram repelidas pelas forças portuguesas sob o comando do conde de Lippe.
Em 1791, é elaborado o projeto para a construção do novo Quartel do Regimento de Infantaria de Bragança, e o local escolhido foi a cidadela. A muralha do lado nascente da fortificação é demolida e os seus materiais utilizados para nova construção. A Torre de Menagem e o pano de muros e cubelos que a cingem, também são aproveitados para acomodar o novo aquartelamento.
Às vésperas da Guerra Peninsular, o trecho leste dos muros foi aproveitado para a construção do aquartelamento de um batalhão de infantaria. Nesse período repeliu as tropas napoleónicas, fase em que a região conviveu com novas ondas de saques e pilhagens.
A partir de 1855, as instalações serviram para acomodar o Batalhão de Caçadores Nº. 3 e mais tarde, entre 1901 e 1937, o Regimento de Infantaria Nº. 10, voltando a aquartelar novamente o Batalhão de Caçadores Nº. 3 até 1960.
Com a chegada do Estado Novo (1933 – 1974) os monumentos nacionais vão ser alvo de atenção redobrada.
No que respeita ao Castelo de Bragança, este foi diversas vezes intervencionado pela DGEMN a partir dos anos 30 do século passado. Sendo que o período em que se realizaram mais intervenções no monumento, foi a década de 60, sobretudo com a demolição do Quartel do Batalhão de Caçadores 3, em 1964.
A DGEMN iniciou uma extensa intervenção de consolidação e restauro, que incluiu a recolocação de ameias em toda a extensão dos muros, a demolição do quartel oitocentista e de diversas edificações adossadas aos muros, bem como a reposição de troços desaparecidos de muralhas e a reconstrução da Porta da Traição.
O Museu Militar, cuja fundação remonta oficialmente a 1983, ocupa os quatro pisos, as dezasseis salas, terraço e cripta da Torre de Menagem, bem como todo o espaço exterior que é ladeado pelos cubelos, incluindo a Torre da Princesa. Este museu possui um acervo de valor histórico, que permite acompanhar a evolução do armamento ligeiro desde o século XVI, até meados do século XX. Procura promover a valorização, o enriquecimento e a exposição do património histórico-militar a si atribuído e divulgar os valores culturais ligados à história militar.
Características do Castelo de Bragança
O castelo, de planta ovalada, erguido na cota de 700 metros acima do nível do mar, é constituído por uma cerca ameada com um perímetro de 660 metros, reforçada por quinze cubelos. Os panos de muralhas, com a espessura média de dois metros, envolvem o núcleo histórico da cidade, a Vila Velha, ocupando uma área de cerca de três hectares e delimitando quatro espaços, orientados por dois eixos viários, cujo principal é a antiga rua da Cidadela.
No seu interior, o visitante pode apreciar as edificações da Domus Municipalis (exemplar único no país da arquitetura civil românica e que se acredita tenha tido, primitivamente, as funções de cisterna), da Igreja de Santa Maria (ou de Nossa Senhora do Sardão) e o Pelourinho medieval. Nessa cerca, rasgam-se três portas (duas sob a invocação de Santo António e a Porta do Sol, a Leste) e dois postigos (a Porta da Traição e o Postigo do Poço do Rei) e sete cubelos (três a Leste, três a Oeste e um a Sul) abobadados a tijolo, que vão reunir-se com o pano de muralhas, na vertente Norte da fortificação.
A porta principal, de Santo António, em arco de volta perfeita, entre dois torreões, é defendida por uma barbacã, na qual se situa a Porta da Vila, em arco ogival. No interior, na praça de armas, é possível observar as adaptações dos acessos e as plataformas destinadas à artilharia.
Notável Torre de Menagem (**)
De planta quadrada, com 17 metros de largura, erguendo-se a 34 metros de altura, adossada à cerca. É em alvenaria de Serpentinito, rocha raríssima mas abundante em Bragança e na região de Morais.
O seu interior, onde se encontram o calabouço e a cisterna, divide-se em dois pavimentos, com salas cobertas por abóbadas de aresta, reforçadas por arcos torais. Primitivamente, uma ponte levadiça dava acesso à a porta, em plano mais elevado, hoje substituída por uma escada externa, de alvenaria adossada à face Norte da sua couraça. Na face Sul, a meia altura da torre, encontra-se uma pedra de armas com o brasão da Casa de Avis. O topo é coroado por ameias com seteiras cruzetadas, balcões com matacães, com quatro guaritas cilíndricas nos vértices, dominando, na face Leste e na face Sul, duas janelas de góticas maineladas. Uma cerca, reforçada por sete cubelos (três a Leste, três a Oeste e um a Sul) de planta circular, defendem o exterior da torre, delimitando um espaço aproximadamente retangular.
Castelo de Bragança e a Torre da Princesa
Ainda pelo lado Norte da cerca exterior, junto a um dos cubelos, destaca-se a chamada Torre da Princesa. Edifício de características residenciais (torre-alcáçova), a sua existência é cercada de histórias, uma das mais populares a Lenda da princesa moura.
Em tempos históricos, afirma-se que foi habitada por D. Sancha, irmã de D. Afonso Henriques a título de refúgio diante das infidelidades conjugais praticadas por seu esposo Fernão Mendes. O que será difícil de acreditar porque a torre é posterior.
Nela, também, esteve encarcerada D. Leonor, esposa do quarto duque de Bragança, dom Jaime, acusada de adultéro pelo próprio marido. O duque acabou por assassinar a esposa, no Paço Ducal de Vila Viçosa, a punhaladas a 2 de Novembro de 1512.
No setor sul, um saliente de planta quadrangular é fechado pelo chamado Poço del’Rei, estrutura quinhentista com a função de defesa de uma cisterna.
A lenda popular da Torre da Princesa
A tradição local refere que há muito, quando a povoação ainda era a aldeia da Benquerença, existiu uma bela princesa órfã, que ali vivia com o seu tio, o senhor do castelo. Esta princesa apaixonou-se por um nobre, valoroso e jovem cavaleiro, porém carente de recursos. Por esse motivo, o jovem partiu da aldeia em longa jornada em busca de fortuna, prometendo retornar apenas quando se achasse digno de pedir-lhe a mão. Nesse ínterim, durante anos a fio, a jovem recusou todos os seus pretendentes, até que o seu tio, impaciente, prometeu-a a um amigo, forçando-a ao compromisso.
Ao ser apresentada ao candidato do tio, a jovem confessou-lhe que o seu coração pertencia a outro homem, cujo retorno aguardava há anos. A revelação enfureceu o tio, que decidiu aumentar a coerção por meio um estratagema: nessa noite, disfarçou-se como um fantasmae, penetrando por uma das duas portas dos aposentos da princesa, simulando ser o fantasma do jovem ausente, afirmou-lhe com voz lúgubre, que ela estava condenada para sempre à danação, caso não aceitasse casar-se com o novo pretendente. A princesa quando estava para acreditar, milagrosamente abriu-se a outra porta e, apesar de ser noite, um raio de sol penetrou nos aposentos, desmascarando o tio impostor. Daí em diante, a princesa passou a viver recolhida na torre que hoje leva o seu nome, e as duas portas passaram a ser conhecidas como Porta da Traição e Porta do Sol, respetivamente.