Panorama e Santuário de Nossa Senhora da Vila Velha de Fronteira (*)

Implantado no cume de um outeiro de configuração arredondada, a cerca de 500 metros da vila de Fronteira, o Santuário de Nossa Senhora da Vila Velha é um dos mais significativos testemunhos patrimoniais da região. Este local é amplamente reconhecido como o primitivo sítio de fundação da vila de Fronteira, remontando a tempos imemoriais.

Do topo deste santuário abre-se um dos panoramas mais espetaculares do Alto Alentejo, permitindo contemplar, a sul, a vila de Fronteira, e, em toda a linha de horizonte, os vastos territórios de Alter do Chão, as termas de Cabeço de Vide, Videmonte, a Torre de Palma e Monforte.

Uma antiga tradição oral atribui ao rei D. Dinis a decisão de deslocar a povoação para a sua localização atual. Segundo a lenda, o monarca, ao passar pelo local, terá indicado que a vila deveria ser transferida para um ponto mais estratégico, onde hoje se ergue a fortaleza dionisíaca. Embora tal narrativa careça de comprovação documental, sabe-se que o realojamento de povoações foi uma prática recorrente no reinado de D. Dinis – como o demonstra o caso paradigmático de Torre de Moncorvo. O sítio escolhido, defronte ao outeiro da Vila Velha, revelou-se mais favorável para a defesa, sendo ainda hoje visível uma porta ogival medieval que testemunha essa transição provável. (1)

A fundação da ermida da Vila Velha remonta, segundo algumas fontes, ao ano de 1226, ou seja, algumas décadas antes do reinado de D. Dinis e há ainda registos documentais que atestam a sua existência em 1496 (1). Elementos arquitetónicos como os contrafortes da capela, bem como fragmentos de sepulturas e tampas medievais, reforçam a sua vetustez medieval.

Os séculos XVII e XVIII trouxeram significativas intervenções ao edifício, enriquecendo-o com uma opulenta decoração barroca. O mais impressionante destes melhoramentos foi, sem dúvida, a aplicação de um revestimento integral de azulejos seiscentistas de Padrão no interior da igreja, cobrindo as paredes até à cimalha com padrões de laçaria e motivos geométricos em tons de azul, branco e amarelo.

Um episódio marcante reforçou a devoção popular ao santuário: em 1694, um violento raio atingiu a capela-mor durante uma romaria, mas, milagrosamente, nenhum dos presentes foi ferido, o que aprofundou ainda mais a veneração à padroeira de Fronteira (1).

A crescente afluência de peregrinos no século XVIII motivou a construção de anexos para melhor acolher os devotos. O santuário, assim ampliado, consolidou-se como um dos mais importantes centros religiosos da região.

Tem do século XIX um espetacular conjunto de pinturas ingénuas de ex-votos que vale a pena visitar.

A importância patrimonial do santuário foi oficialmente reconhecida em 2014, com a sua classificação como Monumento de Interesse Público (MIP), reafirmando o seu valor histórico, arquitetónico e cultural.

O Interior da Ermida da Vila Velha

O santuário apresenta uma fachada singular, marcada por um alpendre de três arcos de volta perfeita, com dois arcos laterais de maior dimensão. O interior, de nave única, é coberto por uma abóbada de berço, sustentando um coro elevado sobre uma galilé. A capela-mor distingue-se pelo seu teto ricamente pintado, subdividido em dezanove caixotões decorados com cenas sacras e legendados com a identificação dos respetivos temas.

Tesouros Artísticos: Azulejos e Pinturas Murais

O interior do santuário é uma autêntica joia do património artístico nacional, conjugando um notável acervo de azulejaria barroca em Padrão e um notável programa de pintura mural.

Os azulejos do século XVII, de padrão geométrico e laçaria, cobrem integralmente as paredes e a escadaria de acesso ao coro, conferindo ao espaço uma atmosfera de requintada beleza cromática. A capela-mor, por sua vez, distingue-se por um padrão ligeiramente distinto, mais denso e de complexa ornamentação.

A riqueza decorativa atinge o seu auge no teto da capela-mor, onde uma sequência de dezanove caixotões apresenta cenas da vida da Virgem e de santos, todas acompanhadas de legendas identificativas. Entre os temas representados encontram-se:

  • São Gregório
  • Nossa Senhora encontrando o Menino entre os Doutores
  • Festejo de Nossa Senhora pelas ciganas
  • Santo Agostinho
  • O Trânsito de Nossa Senhora
  • A Vinda do Espírito Santo
  • A Assunção da Virgem
  • O Casamento de Nossa Senhora
  • A Apresentação no Templo
  • Santo Ambrósio
  • Aparição de Cristo Ressuscitado a Nossa Senhora
  • A Virgem trabalhando sob o olhar de São José
  • A Fuga para o Egito
  • São Jerónimo, entre outros.

Este programa iconográfico, de inspiração contrarreformista, reflete o espírito devocional da época e insere-se na tradição artística do Barroco português, onde a pintura e a azulejaria se conjugam numa eloquente expressão de fé.

Devoção e Festividades

As festividades em honra de Nossa Senhora da Vila Velha são o momento alto da vida religiosa da comunidade, realizando-se anualmente no mês de agosto. Mais do que um evento de cariz religioso, estas celebrações representam uma afirmação da identidade cultural local, reforçando os laços sociais e atraindo forasteiros, promovendo assim o turismo religioso na região.

Cronologia do Santuário de Nossa Senhora da Vila Velha:

  • 1226 (Aproximadamente): Possível fundação da ermida da Vila Velha, segundo algumas fontes.
  • Antes do Reinado de D. Dinis: Local de fundação original da vila de Fronteira.
  • Reinado de D. Dinis (1279-1325): Rei D. Dinis, alegadamente, decide transferir a vila para uma localização mais estratégica, defronte ao outeiro da Vila Velha, onde se ergue a fortaleza dionisíaca (1).
  • 1496: Existência documentada da ermida (1).
  • Séculos XVII e XVIII: Significativas intervenções no edifício, com a introdução da decoração barroca, incluindo o revestimento integral de azulejos seiscentistas de Padrão.
  • 1694: Um raio atinge a capela-mor durante uma romaria, sem ferir ninguém, o que aprofunda a devoção à padroeira (1).
  • Século XVIII: Construção de anexos para acomodar a crescente afluência de peregrinos.
  • Século XIX: Criação de um conjunto de pinturas ingénuas de ex-votos.
  • 2014: Classificação do santuário como Monumento de Interesse Público (MIP).
  • Atualmente: As festividades em honra de Nossa Senhora da Vila Velha continuam a ser um evento anual importante em agosto.

Referências adicionais-Carência de Fontes (1)

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