Miradouro do Zebro (Oleiros) (***)-Um Objeto Singular na Paisagem

Emerge, no horizonte recortado da serra, uma plataforma que se nos afigura quase como um objeto vindo de outras paragens, um óvni, dir-se-ia, pousado ali para contemplar a vastidão da paisagem que se estende em serranias, debruçando-se sobre o vale verdejante, serpenteado por estradas e caminhos rurais. É o miradouro do Zebro, obra do arquiteto Álvaro Siza Vieira, figura de proa da arquitetura portuguesa, galardoado com o Prémio Pritzker.

Foi inaugurado em Oleiros, terra de tradições e história, no dia 25 de Abril de 2024.  

Arquitetura de Siza Vieira e Abismo

A plataforma, de forma circular e construída em “betão armado aparente”, surge suspensa na paisagem, como que a desafiar a crista quartzítica sobre a qual se ergue. A guarda, que acompanha a forma da placa, resguarda o abismo que se precipita, mas convida à curiosidade, abrindo “óculos” de vidro no chão que permitem espreitar os rochedos que se estendem até ao sopé, numa queda de cerca de 200 metros. Painéis informativos auxiliam o visitante a identificar os sistemas montanhosos circundantes e a desvendar a origem do nome deste lugar.

Um Ponto de Vista Privilegiado

O Miradouro do Zebro, com os seus 837 metros de altitude, oferece não só uma vista panorâmica sobre a Serra do Muradal, mas também testemunha a história da região.

Memórias de um Passado Selvagem

O território que se avista do Miradouro do Zebro possui uma importância histórica assinalável, tendo desempenhado um papel crucial na defesa contra as invasões francesas. Este local, desde tempos imemoriais, foi valorizado pelas populações locais, sendo palco de piqueniques e romarias, como atesta um painel informativo. O nome “Zebro” evoca a memória de um habitante antigo da região.

O Zebro era uma espécie de cavalo selvagem que habitou a Península Ibérica até ao século XVI, aparentado com o cavalo Sorraia. Assemelhava-se ao burro, mas distinguia-se pelo dorso branco e pelas riscas cinzentas, sendo mais alto, forte e veloz que o asno doméstico. A presença deste animal outrora abundante na região deixou a sua marca em topónimos como Zebreira, Casas de Zebreira e Zebro, no concelho de Oleiros.

A Geologia Imponente Crista Quartzítica da Serra do Muradal

No entanto, o Miradouro do Zebro e a região que o circunda destacam-se, sobretudo, pela sua relevância geológica, fator determinante para a integração da Serra do Muradal no Geopark Naturtejo. Desta fraga quartzítica, as panorâmicas estendem-se pelo vale da Ribeira das Casas da Zebreira, que serpenteia 200 metros abaixo.

Mas, o que é, afinal, a Serra do Moradal?

A Serra do Moradal, de “silhueta abrupta e dominadora” (RIBEIRO, 1942), integra um imponente alinhamento essencialmente quartzítico com orientação SE-NW, estendendo-se por 32 km desde a Ribeira da Magueija até ao Rio Ceira.  

Tem a sua origem no Pé da Serra (Ribeira da Magueija), a SE, atravessa o Rio Zêzere, e prolonga-se para NW, já com outras denominações toponímicas, até ao seu ponto mais elevado, no Batouco (1106 m), estendendo-se ainda até ao Rio Ceira, 2 km a N de Fajão, onde se encontram os Penedos de Fajão.  

Esta serra, de rocha dura, é constituída por quartzitos do período Ordovícico Inferior Tremadociano-Arenigiano, formados entre 485,4 e 470 milhões de anos atrás.

A cumeada da crista apresenta-se regular, sulcada apenas pelo vale da Ribeira das Casas da Zebreira, com um encaixe profundo de 200 m, resultado da Falha de Mosqueiro, pela rechã do Orvalho e pelo vale do Rio Zêzere, que corta o relevo a NW através de uma garganta escarpada com 300 m de profundidade.  

A Vida que Pulsa na Serra

Na Serra do Moradal nascem a Ribeira da Sertã, na Fonte de Pero Beques (Estreito) e a Ribeira do Alvito. Os cumes são agrestes, por vezes escarpados, contrastando com as encostas íngremes, revestidas de matagal denso de tojos, urzes, estevas, giestas, medronheiros (de importância para a economia local) e rosmaninhos. No sopé, dominam os pinhais e eucaliptais, sendo raras as áreas agricultadas, associadas ao povoamento disperso porque as pequenas localidades alinhadas entre linhas de água, que limitam o espaço para a ocupação humana e transportam sedimentos que raramente formam solos férteis para a agricultura.

Notas Adicionais:

1-Do Jornal Público (ler aqui).

2- RIBEIRO, O. (1942). Notas sobre a evolução morfológica da Orla meridional da Cordilheira Central entre Sobreira Formosa e a fronteira. Boletim da Sociedade Geológica de Portugal, I3, 123-144.

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