Miradouro do Cabeço da Urra (Pampilhosa da Serra) (**) -Um Compêndio Geográfico na Cordilheira Central
- A Cordilheira Revelada
- No coração da Cordilheira Central portuguesa, o Miradouro do Cabeço da Urra revela-se como um ponto de observação privilegiado, oferecendo uma leitura perspicaz da intrincada estrutura geomorfológica do território. Daqui, o olhar abarca um vasto panorama que se estende no sentido nordeste-sudoeste, acompanhando a direção axial dominante da cordilheira.
- Granito e Xisto: Um Contraste Notável
- A norte e noroeste, erguem-se as massas graníticas da Serra da Estrela, num contraste notável com os relevos arredondados, de natureza xistosa, das serras do Açor e da Lousã. Estas, por sua vez, são recortadas por vigorosos alinhamentos quartzíticos, como os Penedos de Fajão ou os de Góis-Buçaco, que seguem uma orientação noroeste-sudeste, testemunhando episódios de intensa tectónica hercínica.
- O Zêzere e a Charneira Orogénica
- Voltando o olhar para sudeste, descortina-se a depressão do rio Zêzere, encaixada num graben bem definido, onde o curso fluvial serpenteia em meandros apertados. O rio Zêzere separa os horsts da Estrela-Açor-Lousã daqueles da Gardunha e do Cabeço da Rainha. No interflúvio desta charneira orográfica, entre Fundão e Janeiro de Cima, estende-se a fértil Cova da Beira, verdadeiro jardim agrícola de solos profundos e generosos.
- O Testemunho da Rocha
- O solo que pisamos é dominado por afloramentos do Complexo Xisto-Grauváquico, pertencente ao Grupo das Beiras (Neoproterozoico), cuja composição sedimentar e metamórfica evoca a longa história geológica deste setor do Maciço Ibérico.
- A Resistência Humana
- Ao fundo, no sopé da encosta, a vila de Pampilhosa da Serra resiste com tenacidade à erosão demográfica e social, numa luta constante contra a desertificação do interior.
- A Terra que Fala
- Todo este quadro paisagístico, observado com atenção, transcende a mera contemplação cénica. Constitui um verdadeiro tratado de geografia física e humana, onde se entrelaçam a tectónica ancestral e os desafios contemporâneos. Aqui, a terra manifesta-se, convidando-nos a escutá-la.
