A Igreja de Castro de Avelãs é um outro local que deve conhecer no seu roteiro do românico do Nordeste Transmontano. Recordo ao leitor, que às coisas singulares não é alheio, que o itinerário consta dos seguintes monumentos. Pode aqui ler sobre o que foi escrito por nós em relação aos monumentos românicos.
Igreja matriz de Santa Maria Maior de Adeganha (Torre de Moncorvo) (**)
Igreja de Santo André de Algosinho(Mogadouro) (**)
Igreja de São Salvador de Ansiães com o castelo e a paisagem (Carrazeda de Ansiães) (***)
Em dois dias pode visitar com serenidade este rico património onde também se integram alguns castelos e suas torres de menagem como (Algoso, Ansiães e Penas Róias) e ainda a igreja românica das Malhadas em Miranda do Douro e a igreja de São facundo em Vinhais. Sem dúvida que aqui temos um magnífico conjunto que mereceria ser englobado num pacote turístico singular.
O Mosteiro de Castro de Avelã foi um grandioso monumento que o tempo e a incúria dos homens aos poucos foram desmantelando.
Este antigo mosteiro que está classificado como Monumento Nacional desde 1910 é um dos monumentos mais simbólicos do Nordeste transmontano, ilustrando simultaneamente a arte românica e a vida monacal da região. Em crescendo de importância ao longo de toda a Baixa Idade Média (a partir de uma primeira proteção de D. Afonso Henriques), o mosteiro beneditino, dispôs de um imenso património.
Neste local existem também vestígios romanos e situa-se muito perto de um castro de onde poderão terão vindo os dois guardiões do limiar (leões, porcos…venha aqui o leitor e decida por si.)
O Mosteiro de São Salvador de Castro de Avelãs foi fundado no século XI, pelos monges beneditinos, no lugar conhecido como Torre Velha, junto a Bragança. Rapidamente se tornou um importante centro religioso e económico, possuindo terras em Bragança, Vinhais e Macedo de Cavaleiros.
No século XII, recebeu a proteção de D. Afonso Henriques, que lhe concedeu carta de couto em 1144. Ao longo desse século e do seguinte, o mosteiro acumulou património e privilégios, fomentando o povoamento da região e concedendo forais a diversas localidades. No final do século XIII, já era um dos mais poderosos da região de Trás-os-Montes.
Durante o reinado de D. Dinis (séc. XIII-XIV), o mosteiro estando associado a dom Nuno Martins de Chachim recebeu várias doações de aldeias e igrejas, o que reforçou ainda mais a sua influência
A abside e dois absidíolos tem alvenaria de tijolo (ladrilhos) com arcaturas cegas sobrepostas com remate semi-circular e revestimento em tijolo, com manifesta influência inspiradora da arte leonesa e o templo de Santo Tirso de Sahagun, constituindo no nosso país exemplo raro, apesar da igreja de santa Maria do Castelo em Bragança também ter na sua estrutura base românica tijolo.
A decoração empregue é estritamente geométrica, com molduras salientes e frisos em dentes de serra.
A planta original incluiria três naves, com abside e absidíolos, num deles agora aberto ao exterior, abriga-se um tumulo granítico. Este túmulo era o de dom Nuno Martim de Chachim.
Mas se, de um ponto de vista estilístico, não restam dúvidas sobre as influências mudejares e leonesas, a cronologia da obra permanece com a construção a situar-se entre o final do século XII e o segundo quartel do século seguinte. Certo é que, aquando da sua construção, a igreja detinha grande monumentalidade. A sua importância foi o suficiente para inspirar a construção do convento mendicante de São Francisco de Bragança, cuja cabeceira primitiva segue fielmente o mesmo modelo e que tão transformado está.
Quem foi Dom Nuno Martins de Chacim?
Aqui está o singelo túmulo medieval de D. Nuno Martins de Chacim, uma das pessoas mais importantes na corte dos reis dom Afonso III e Dom Dinis.
Dom Nuno Martins de Chacim foi um Rico-homem e aio do Rei D. Dinis I de Portugal, teve a tenência de Bragança entre 1265 e 1284. Era filho de Martim Pires de Chacim e de Froile Nunes de Bragança, portanto com vivências e raízes nesta região, mesmo assim.
Nuno de Chacim foi particularmente próximo do rei dom Dinis, foi meirinho mor do seu pai, o rei Dom Afonso III, (algo idêntico ao ministro da justiça, porque era o magistrado encarregado de aplicar a Justiça e fiscalizar a aplicação da justiça no reino, entre 1261 e 1276 ao mesmo tempo aio do jovem príncipe dom Dinis, pois o nosso rei dom Dinis nasceu precisamente em 1261).
Quando o rei dom Dinis sobe ao trono em 1279, dom Nuno Martins de Chachim foi imediatamente eleito Mordomo-mor por ser um dos homens que o criou e por quem seguramente teria a maior estima. Esta personagem tão importante, teve uma grande influência na governação do rei dom Dinis, até a sua morte em 1284.
Cresceu com o jovem Dinis, Gil Nunes de Chachim, filho de Nuno Martins de Chachim e que faleceu em 1297.
Relembro que um Mordomo Mor era principal administrador da Casa Real, o primeiro oficial da Casa Real Portuguesa, responsável pela sua administração interna, supervisão de outros funcionários e, no início da monarquia, por funções análogas às de um primeiro-ministro, como a direção do governo e gestão dos bens da Coroa.
Nuno Martins de Chachim, teve então uma grande influência na governação do rei dom Dinis, mas antes em 1265, tornou-se senhor de Chacim e foi ainda governador da região de Bragança.

Listo agora os factos mais importantes do reinado de dom Dinis entre 1279 e 1284 enquanto Dom Nuno de Chachim foi Mordomo-mor
1279- Depois da morte do rei dom Afonso III, a Rainha-viúva Beatriz e o mordomo mor João Aboim e até março presidiram a um concelho de regência. João Aboim foi substituído por Nuno Martim de Chachim.
1279- Reforço do sistema defensivo em Castro Marim
-1280- Primeiras negociações para a Aliança de Dom Dinis com Isabel de Aragão e estabelecimento das bases do contrato do Casamento.
– 1281-Casamento do rei dom Dinis com a rainha santa Isabel no dia 24 de abril, mas em que ambos não estavam presentes.
– Primeira reunião de conversações com os bispos na cidade da Guarda para resolver o diferendo com a igreja católica, problema herdado do pai do Rei Dom Dinis, o rei dom Afonso III.
-1281- Primeiro confronto entre o rei dom Dinis e o seu irmão Afonso, senhor de Portalegre, com cerco a Castelo de Vide, em que este último teve que desistir das suas pretensões de muralhar aquela localidade, sem a concordância do seu irmão, o rei dom Dinis
1282-A princesa Isabel, com apenas 11 anos, entra por Bragança em Portugal, onde foi recebida pelo infante dom Afonso e seguramente pelo Mordomo-mor e tenente de Bragança, dom Nuno Martim de Chachim. A Rainha Santa Isabel chega a Trancoso no dia 24 de junho e onde se encontra com o rei dom Dinis e restantes comitivas
1282- Cortes de Évora.
1282- Concordata entre o rei e os bispos, sancionada pelo Papa em 1289 depois de alterada em 1284.
1282- Em 31 de julho, lei das Apelações
1282-A Rainha dona Beatriz, mãe do rei dom Dinis vai para Sevilha apoiar o seu pai Afonso X, na guerra que o opunha ao infante dom Sancho.
1283- Estranhamente dom Dinis revoga todas as doações feitas desde o inicio do seu reinado (6 de dezembro).
1284- Primeiras inquirições gerais
1284- Dom Dinis funda a vila de Caminha a quem dá foral a 24 de julho.
1279-84- Foram atribuídos e confirmados diversos forais (Alcáçovas, Aljezur, Cacela, Póvoa da Veiga, Nozelos, Favaios e Sanceriz)
1284- Conceções de privilégios a feiras francas entre 1284 e 1285 para desenvolver as atividades económicas.
Tratado de Babe
Em março de 1387 hospedou-se aqui o Duque de Lancaster, John of Gaunt, acompanhado por cerca de mil homens de armas, aquando do seu encontro com D. João I no planalto de Babe.
Babe tem um significado especial na história de Portugal. Foi neste local que, a 26 de março de 1387, o Duque John of Gaunt (quarto filho do rei Eduardo III de Inglaterra) se despediu da sua filha, D. Filipa de Lencastre, já então esposa de D. João I. Nesse momento, consolidou-se a Aliança que viria a ser confirmada pelo Tratado de Windsor, base de uma cooperação luso-inglesa que, ao longo dos séculos, garantiu a independência de ambos os reinos.
D. João I ofereceu auxílio militar ao Duque de Lancaster, de modo a dividir as forças de Castela. John of Gaunt desembarcou na Corunha e avançou depois para Melgaço, onde se encontrou com o rei português. Nesse encontro foram acordadas as condições da ajuda, que incluíam, à maneira inglesa, alianças matrimoniais: uma das filhas do duque, D. Filipa de Lencastre, casou com D. João I, e outra foi destinada a casamento em Espanha, para reforçar outro acordo.
Enquanto as tropas inglesas seguiram para Bragança, celebrou-se na cidade do Porto o casamento régio. Após a cerimónia, D. João I juntou as suas forças às do duque, que, entretanto, se encontrava hospedado no Mosteiro de Castro de Avelãs. Porém, a demora do rei levou John of Gaunt a avançar com o seu exército, até receber a notícia da chegada de D. João. Reunidos, os dois exércitos encontraram-se em Babe, onde acamparam milhares de homens, entre eles o próprio D. Nuno Álvares Pereira.
O chamado Tratado de Babe estabeleceu que o Duque de Lancaster renunciasse a quaisquer direitos que pudesse reivindicar sobre a coroa portuguesa, consolidando assim a posição de D. João I como legítimo rei de Portugal.
Extinção do Mosteiro
Extinto pelos meados do séc. XVI (1545-1546), a mesma bula que cria a Diocese de Miranda do Douro extingue este cenóbio e, consequentemente a passagem dos seus bens para a futura diocese de Bragança/Miranda, o edifício entrou num processo de degradação. Na sequência deste facto, a população destruiu grande parte da igreja, perdendo-se então, irremediavelmente, o corpo original do templo.
Mais tarde, a cabeceira da igreja que restou foi aproveitada para a construção da atual que é em estilo barroco, mas com aspeto vulgar.
No interior possui estrutura do antigo púlpito, no lado do Evangelho, dois retábulos colaterais, e o retábulo-mor em talha dourada do estilo barroco nacional.
Os Guardiões do limiar
O Mosteiro de Castro de Avelães, tal como o Mosteiro de Pitões das Júnias tem guardiões do limiar
Na arquitetura românica (séc. XI-XIII), as portas das igrejas eram muito mais do que simples entradas: tinham uma forte carga simbólica. Representavam a passagem do mundo terreno para o sagrado.
Os “guardiões do limiar” são as figuras (esculturas ou relevos) que aparecem junto às portas — muitas vezes em portais, colunas, capitéis ou arquivoltas — com a função de vigiar e proteger a entrada do templo e marcam o limite entre o mundano e o sagrado
Eles podiam assumir várias formas de Animais fantásticos ou monstruosos (Aqui leões ou porcos), que poderão ter vindo universo vetão, porque aqui próximo existia o Castro de Avelães (exatamente no local onde se encontra o marco geodésico) que assustavam o mal, guardando a entrada e simbolizavam a vitória do bem sobre o caos, mas também preparava o fiel: quem entrava no templo percebia, através da escultura, que estava a passar de um espaço profano para um lugar consagrado a Deus.
Podemos ainda ver as ruínas do mosteiro, onde seria o claustro e algumas salas associadas ao ainda uma vetusta torre que poderia servir de entrada no mosteiro.
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