Castelo de Viana do Alentejo (**)

Classificado como Monumento Nacional desde 1910, o Castelo de Viana do Alentejo ergue-se como um dos mais belos testemunhos do gótico final português. O conjunto arquitetónico, formado pela sólida estrutura amuralhada e pelos templos que guarda no seu interior — a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Anunciação e a Igreja da Misericórdia —, encerra séculos de história, arte e devoção.

Entre as cidades de Évora e Beja, quase equidistante de ambas, o castelo domina a paisagem a partir do sopé sul do monte de São Vicente, vigiando a vila antiga com a serenidade de quem atravessou o tempo. A sua silhueta harmoniosa, faz par com a do Castelo de Alvito, com o qual partilha o mérito de ser um dos mais notáveis conjuntos fortificados do final do período gótico.

Os vestígios arqueológicos encontrados nas redondezas — particularmente no sítio de Paredes e no Santuário de Nossa Senhora de Aires — testemunham a presença romana, revelando restos de edificações, uma necrópole com lápides funerárias e moedas do tempo dos primeiros imperadores.

O castelo medieval de Viana do Alentejo

As terras onde o castelo se ergue pertenciam, em tempos, a uma herdade chamada “Foxem”, propriedade da cidade de Évora. Nos primeiros anos da segunda metade do século XIII, foram doadas à família Riba de Vizela, ligada à cúria régia de Afonso III de Portugal (1248–1279).

Com a morte de D. Martim Gil de Riba de Vizela, senhor destas terras, D. Dinis (1279–1325) tomou-as sob a sua alçada, concedendo Carta de Foral à povoação em 1313. Nesse documento, então denominada Viana-de-a-par-de-Alvito, o monarca regulamentava a vida da comunidade e oferecia cem libras para as obras de fortificação.

Foi o início da construção do castelo e da cerca que o protegia. No ano seguinte (1314), D. Dinis doou a vila e os seus domínios ao filho, o futuro D. Afonso IV, impondo-lhe que não os cedesse a ninguém, salvo à sua esposa, a infanta castelhana D. Beatriz — o que de facto aconteceu em 1357, poucos dias antes da morte do rei.

Já no reinado de D. João II (1481–1495), o castelo conheceu novas remodelações. As Cortes de Évora, abertas em novembro de 1481, foram transferidas para Viana do Alentejo por causa da peste que assolava a cidade, encerrando-se ali em abril do ano seguinte. Durante esse período, o soberano instalou-se no castelo, que serviu de residência real temporária.

As obras prosseguiram sob D. Manuel I (1495–1521), sob a direção dos arquitetos Martim Lourenço, Diogo de Arruda e Francisco de Arruda. Desses trabalhos nasceu um novo pano de muralhas ameado, de traço firme e elegante, que ainda hoje confere ao conjunto a sua feição inconfundível.

Com o passar dos séculos, os fossos envolventes e as antigas pontes de acesso foram desaparecendo.

Do século XX aos nossos dias

Somente na década de 1940 o poder público viria a intervir, através da Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, que promoveu importantes trabalhos de consolidação e restauro das muralhas e das ameias. Estas obras devolveram ao monumento parte da sua antiga dignidade e asseguraram a sua preservação para as gerações futuras.

Arquitetura e encanto

O castelo é um exemplo de arquitetura gótica militar, enriquecido por elementos manuelinos e mudéjares que refletem os diversos períodos da sua história construtiva. A sua planta pentagonal irregular articula cinco cortinas de muralhas, reforçadas por cubelos cilíndricos nos vértices, que delimitam o terreiro interior.

O topo das muralhas é percorrido por adarves, e os cubelos, rematados por coruchéus de alvenaria, erguem-se como torres sentinelas de um passado distante. O maior deles foi transformado em Torre de Menagem, dominando o conjunto. As fachadas, coroadas de merlões e ameias, conferem-lhe a severa beleza dos castelos.

Nas cortinas a sul e a Noroeste abrem-se a porta do castelo dando acesso direto ao nártex da igreja que lhe dá nome.

Dentro das muralhas, o visitante descobre um espaço onde a fé e a história se entrelaçam: as igrejas da Misericórdia e da Matriz, a antiga Câmara Municipal e a Capela de Santo António convivem em harmonia com os jardins envolventes, que emprestam ao conjunto uma atmosfera de serenidade e de beleza intemporal.

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